O risco é um dos termos mais frequentes na rotina de um profissional da carreira bancária — especialmente daqueles que trabalham com investimentos. Afinal, junto à rentabilidade, esse é o principal fator a se considerar na hora de formar uma carteira de investimentos.

 Se aprofundar em seus desdobramentos, portanto, é uma tarefa da qual quem pretende trabalhar no mercado financeiro não pode fugir. Por essa razão, sugiro que você separe um tempo para ler este artigo. Nele, vou guiá-lo por tudo o que precisa saber sobre dois tipos essenciais de risco: o sistemático (não-diversificável) e o não-sistemático (diversificável). 

Entre os tópicos abordados estão:

  • O que é risco de mercado;
  • As diferenças entre risco sistemático e não-sistemático;
  • O que caracteriza o risco sistemático e o não-sistemático;
  • Exemplos desses riscos no dia a dia;
  • Como proteger seus investimentos de riscos não-sistemáticos;
  • E outros tipos de riscos que você precisa conhecer.

Pronto para dominar o assunto? Então, vem comigo!

O que é risco de mercado?

O risco de mercado pode ser entendido como o risco de perda de valor de um ativo em decorrência das variações nos preços ou taxas no mercado. Por isso, é também chamado de risco de volatilidade.

De forma simplificada, este risco se refere às oscilações de preço que os ativos sofrem. Ativos como ações e criptomoedas, por exemplo, são conhecidos por possuírem alto risco de mercado, pois seus valores tendem a variar constantemente.

Qual a diferença entre risco sistemático e não-sistemático?

A principal diferença entre esses dois tipos de risco está na possibilidade de mitigação. O risco não-sistemático pode ser reduzido pela diversificação dos investimentos, pois está associado a fatores específicos de um setor ou empresa.

Já o risco sistemático afeta o mercado como um todo, abrangendo todo o sistema financeiro. Por ser inevitável e não mitigado pela diversificação, é também chamado de risco não-diversificável.

Para compreender melhor essa diferença, vale explorar cada tipo de risco individualmente. É exatamente isso que veremos a seguir.

O que é risco sistemático ou não-diversificável?

O risco sistemático, como o nome indica, é aquele que impacta todo o sistema econômico. É o caso, por exemplo, das mudanças significativas nas taxas de câmbio.

Esse tipo de risco é extremamente difícil de mitigar pois está associado a fatores macroeconômicos que afetam o mercado como um todo, independentemente de setores ou empresas específicas. Não pode, portanto, ser minimizado com a diversificação do portfólio, já que é inerente a todas as classes de ativos. Daí ser chamado também de risco não-diversificável.

O risco sistemático é frequentemente associado a instabilidades catastróficas capazes de afetar os grandes players do mercado financeiro. Como as instituições financeiras estão fortemente interligadas, a falência de um grande banco ou grupo financeiro pode desencadear uma reação em cadeia, resultando em uma crise generalizada.

Um sinal de alerta pode surgir quando uma instituição financeira enfrenta dificuldades para honrar seus compromissos, causando inadimplências que se propagam para outras instituições. Esse efeito cascata pode culminar em um colapso de toda a estrutura Sistema Financeiro Nacional.

O que é risco não-sistemático ou diversificável?

O risco não-sistemático é específico e está associado a uma empresa, instituição ou setor em particular, sem o potencial de afetar a economia como um todo. Por isso, também é conhecido como “risco diversificável”, já que pode ser minimizado por meio da diversificação da carteira de investimentos.

Por exemplo, um investidor com exposição ao setor de construção civil — seja em ativos reais ou ações de incorporadoras — pode sofrer perdas devido a uma greve de trabalhadores do setor.

No entanto, se esse mesmo investidor possuir uma carteira diversificada, incluindo ativos de diferentes setores, títulos públicos, commodities, cotas de fundos de investimento ou BDRs, o impacto negativo será reduzido. As perdas no segmento de construção civil podem ser compensadas, ou até superadas, pelo bom desempenho de outros ativos da carteira.

Quais os exemplos de risco sistemático e não-sistemático?

Na sequência, apresentarei exemplos específicos para cada tipo de risco — sistemático e não-sistemático — de forma a facilitar a compreensão e ajudar na identificação desses conceitos na prática. 

Exemplo de risco sistemático

Os riscos sistemáticos estão associados a eventos macroeconômicos que representam uma ameaça, em algum grau, a todas as classes de ativos. São capazes de afetar toda a economia de um país e, em alguns casos, podem até mesmo atingir escala global. 

Exemplos comuns de riscos dessa magnitude incluem, mas não se limitam a:

  • Crises financeiras globais: instabilidades financeiras que afetam instituições e mercados de vários países;
  • Crises econômicas globais: recessões amplas que impactam várias economias simultaneamente;
  • Crises políticas: golpes de Estado ou conflitos que desestabilizam a economia;
  • Desastres naturais e outras catástrofes: terremotos, tsunamis, inundações ou crises sanitárias grande escala;
  • Variações nas taxas de juros: aumento ou redução acentuada das taxas de juros pelos bancos centrais que podem afetar o custo do crédito e o retorno dos investimentos;
  • Inflação descontrolada:  períodos de hiperinflação ou deflação prolongada, que desestabilizam os mercados;
  • Insegurança jurídica no país: alterações ou incertezas na aplicação das leis que geram instabilidade econômica;
  • Recessão econômica: contrações econômicas prolongadas, que afetam todos os setores econômicos;
  • Variações cambiais extremas: movimentos acentuados nas taxas de câmbio que impactam transações internacionais;
  • Mudanças na política monetária global: decisões coordenadas de bancos centrais que influenciam mercados amplamente.

Quer alguns exemplos reais de riscos sistemáticos? Lembra da crise do Subprime? Este foi um caso bem emblemático de crise financeira de escala global. Em resumo, o problema começou com uma crise no mercado imobiliário e terminou impactando várias outras nações, em maior ou menor escala. Basicamente, um efeito dominó, onde uma crise acabou desencadeando outras.

Outros casos recentes incluem, por exemplo, a crise sanitária provocada pela Covid-19 e a ainda em curso guerra entre Ucrânia e Rússia. Ambos eventos interromperam cadeias produtivas, restringiram o consumo e geraram um impacto econômico em diferentes partes do mundo.

Exemplo de risco não sistemático

Os riscos não sistemáticos são aqueles que atingem apenas uma empresa ou setor de mercado em específico. Os exemplos são muitos e incluem:

  • Concorrência acirrada: a entrada de novos players ou mudanças na dinâmica competitiva de um mercado que afetam a posição de uma empresa no setor, impactando seus lucros e resultados;
  • Dependência de insumos externos: crises em cadeias de suprimento que afetam empresas ou indústrias específicas;
  • Escândalos corporativos: fraudes ou irregularidades que comprometem a confiança em uma empresa;
  • Flutuações específicas de mercado: variações na oferta e demanda que afetam setores ou produtos específicos;
  • Greves setoriais: paralisações que afetam apenas um setor, como transportes ou construção civil;
  • Mudanças na gestão empresarial: decisões equivocadas ou estratégias mal planejadas que comprometem o desempenho de uma organização;
  • Novas regulamentações setoriais: normas específicas que impactam apenas um ramo, como o setor de energia ou telecomunicações;
  • Problemas com produtos ou serviços: recall de produtos, defeitos em lotes ou boicotes que prejudicam uma empresa;
  • Problemas de governança: má administração ou falta de transparência que compromete a credibilidade de uma empresa;
  • Problemas legais: questões jurídicas que podem envolver processos, multas ou outras implicações legais, afetando a operação e a reputação de uma empresa.

Quer exemplos concretos? Vamos começar por um caso recente de impacto setorial. Em 2020, uma nuvem de gafanhotos se aproximou das fronteiras do Brasil, afetando plantações de milho e cana-de-açúcar. Esse evento trouxe prejuízos significativos para indústrias ligadas a esses produtos, mas outros setores permaneceram ilesos.

Já no caso de empresas individuais, um episódio marcante recente foi a crise das Americanas. Em janeiro de 2023, a rede varejista anunciou inconsistências contábeis que somavam cerca de R$40 bilhões, resultado de práticas de ocultação de dívidas em sua contabilidade. A crise foi devastadora: em apenas um dia, as ações da empresa despencaram mais de 77%, e, um ano após o escândalo, a companhia havia perdido 93% do seu valor.

Como se proteger dos riscos não-sistemáticos?

Enquanto os riscos sistemáticos atingem toda a economia, sendo praticamente impossíveis de ser contornados, os riscos não sistemáticos são caracterizados pelo fato de que podem ser reduzidos

Como afetam apenas uma empresa, instituição ou setor em particular, existem algumas estratégias práticas que podem ser aplicadas para amenizar o impacto dos riscos não-sistemáticos. Abaixo, separei três formas conhecidas de fazer isso: 

Diversificação de carteira

Nunca deixe todos os seus ovos em um ninho só. Se você é um investidor, já deve ter ouvido esse conselho. 

Quando o capital do cliente é dividido em mais de um título, é menos provável que um problema de um ativo particular impacte consideravelmente todo o seu patrimônio.

Pulverização

O conceito de pulverização é bastante confundido com o de diversificação. Afinal, ambos dizem respeito à ideia de ter títulos diferentes na mesma carteira.

Contudo, a pulverização diz respeito, também, à origem desses títulos. Se eles estiverem todos correlacionados, o desempenho será o mesmo para cada um. Ou seja: se a rentabilidade de um sobe, dos outros sobe também. O contrário também acontece: se um vai mal, os outros também vão.

Por isso, mais que montar uma carteira diversificada, é preciso também cuidar da pulverização. Ou seja, aplicar em títulos que não mantenham correlações. Assim, caso um desempenhe mal, o prejuízo não é generalizado.

Investimentos assegurados pelo Fundo Garantidor de Crédito

Outra forma de mitigar o impacto dos riscos sistêmicos é investir em produtos financeiros garantidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Criado para prevenir crises bancárias sistêmicas, o FGC é uma instituição privada sem fins lucrativos que garante a devolução parcial ou total de aplicações financeiras em casos de intervenção ou liquidação extrajudicial de instituições financeiras.

Os investimentos que contam com essa garantia são:

  • Caderneta de Poupança: a aplicação mais popular entre os brasileiros, oferece baixa rentabilidade, baixo risco e liquidez imediata;
  • Certificados de Depósito Bancário (CDBs): títulos emitidos por bancos para captar recursos, com taxas fixas ou variáveis;
  • Depósitos de poupança rural: variante da poupança comum, com foco em financiamentos rurais;
  • Depósitos em contas correntes: valores mantidos em contas correntes também estão protegidos dentro do limite estabelecido pelo FGC;
  • Letras de Câmbio (LC): títulos emitidos por financeiras que oferecem rendimentos similares aos CDBs;
  • Letras de Crédito do Agronegócio (LCA): títulos isentos de IR para pessoas físicas, destinados a financiar o agronegócio;
  • Letras de Crédito Imobiliário (LCI): sem incidência de IR para pessoas físicas, esses títulos financiam o setor imobiliário;
  • Letras Hipotecárias (LH): títulos lastreados em créditos imobiliários, com rentabilidade e prazos pré-definidos;
  • Recibo de Depósito Bancário (RDB): similar ao CDB, mas sem possibilidade de resgate antes do vencimento.

O FGC garante até R$250 mil por CPF ou CNPJ por instituição financeira, protegendo o valor investido em caso de quebra da entidade emissora. Além disso, há um teto acumulado de cobertura de R$1 milhão por investidor a cada período de quatro anos.

Quais os outros tipos de riscos?

Via de regra, o nível de risco de um ativo é inversamente proporcional ao seu retorno. Isto significa que quanto mais arriscada uma aplicação, maior é o seu potencial de lucro — e de perda. Saber encontrar o ponto de equilíbrio entre esses dois fatores é, em resumo, o ponto chave ao se investir. 

Por isso é tão importante compreender o conceito de risco e todos seus desdobramentos. Agora que você já entendeu os conceitos mais amplos de riscos sistêmicos e não sistêmicos, que tal explorar outros tipos de riscos igualmente importantes?

Entre os mais comuns, é possível listar:

Risco de liquidez

O risco de liquidez pode ser definido como a possibilidade de não encontrar um comprador interessado em um de seus ativos. Ou ainda, a dificuldade de transformar um produto financeiro adquirido em dinheiro.  

É, em outras palavras, as chances de que você não consiga reaver seu dinheiro de forma rápida ou que tenha que negociá-lo por um valor inferior em caso de necessidade. Esse tipo de risco é especialmente relevante em situações de emergência financeira ou para investidores que necessitam de flexibilidade para resgates rápidos. 

Um exemplo conhecido de ativos com baixa liquidez são os imóveis físicos. Devido ao alto custo associado a esse tipo de investimento, é bastante comum que o investidor leve tempo para encontrar compradores interessados e, assim, reaver o valor investido. 

Por outro lado, produtos com alta liquidez incluem investimentos como CDBs de liquidez diária ou a caderneta de poupança. Esses ativos permitem o resgate do valor investido a qualquer momento

Risco operacional

No contexto dos investimentos, o risco operacional está atrelado à possibilidade de erro na execução de ordens de compra ou venda, ou interrupções ocasionadas por sistemas instáveis, que podem ocasionar em prejuízos.

Exemplos comuns de risco operacional incluem invasões ou erros em sistemas, como uma ordem de compra incorreta enviada por uma corretora devido a erro humano, ou interrupções causadas pelo mecanismo de circuit breaker em bolsas de valores. 

Risco de crédito

O risco de crédito pode ser entendido como as chances de que o emissor de um título de dívida — seja ele um governo, uma empresa ou instituição financeira — não cumpra com suas obrigações financeiras. Isto é, que não pague os juros acordados ou o valor principal investidores. No jargão popular: é o famoso “calote”.

Um exemplo teórico seria o de um banco enfrentando dificuldades financeiras e falhando em honrar os depósitos ou pagamentos prometidos aos seus investidores.

Para reduzir esse risco, investidores podem consultar agências de classificação de risco, como Moody’s, S&P Global e Fitch. Essas agências atribuem notas que avaliam a capacidade de pagamento do emissor. 

Emissores com baixa classificação geralmente oferecem retornos maiores para compensar o maior risco, enquanto títulos bem avaliados, como os títulos do tesouro dos EUA, conhecidos como os mais seguros do mundo, oferecem retornos reconhecidamente modestos.

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