Para por um momento, e pense de que forma você explicaria um investimento de renda fixa para alguém que não entende nada do assunto. Certamente, sua explanação incluiria características como “segurança” e “retornos modestos”, não é mesmo? Mas, e seu eu te disser que isso nem sempre é assim?
Surpreso? Calma, isso não significa que você esteja errado. Afinal as características acima são amplamente atribuídas aos títulos de renda fixa — e não sem razão. Entretanto, como diz a velha máxima: “toda regra tem sua exceção”. Neste caso, a exceção são os chamados ativos high yield.
Esses papéis contam, ao mesmo tempo, com riscos e retornos consideravelmente maiores que os demais ativos de renda fixa.
Interessante, não é mesmo? Então siga comigo para entender melhor o que são e como funcionam os ativos high yield. Entre outras coisas, você verá neste artigo:
- O que significa high yield?
- Como saber se um fundo é high yield?
- Quem emite títulos de high yield?
- Quais são as características dos títulos e investimentos high yield?
- Quais são os tipos de investimentos high yield?
- Por que investir em títulos de high yield?
- Quais são os riscos dos títulos high yield?
- Como os títulos high yield se comportam no mercado?
Vamos nessa!
O que significa high yield?
High yield (“alto rendimento”, em tradução para o português) é um termo utilizado no mercado financeiro para classificar papéis de renda fixa que pagam taxas de juros consideravelmente mais altas que a média, de forma a compensar baixas notas de crédito (rating).
Dito de forma mais simples, são títulos de dívida públicos ou privados com retornos atrativos, porém, mais suscetíveis à inadimplência por parte do emissor. Daí o motivo de também serem conhecidos pejorativamente como “junk bonds” (literalmente “títulos lixo”).
Para facilitar a compreensão, é possível dizer ainda que os “títulos de alto rendimento” são uma espécie de “fusão” entre a renda fixa e a renda variável. Ou melhor: ativos ambivalentes que compartilham características em comum entre esses dois tipos de aplicação.
São, por natureza, investimentos de renda fixa. Isso porque, o vencimento e as regras de rentabilidade são conhecidas desde a emissão, permitindo que o investidor possa calcular com certa previsibilidade quanto receberá na data determinada para o resgate. Contudo, seus rendimentos, riscos e volatilidade se aproximam dos ativos de renda variável.
Como curiosidade, vale mencionar que os títulos high yield também podem ser entendidos como o antônimo dos títulos high grade (“alta classe”, em português), papéis com excelente nota de crédito e, consequentemente, retornos mais modestos.
Importante dizer que, diferentemente de outros investimentos de renda fixa, os títulos high grade não são investimentos recomendados para investidores de perfil conservador ou iniciantes. Na verdade, consideradas sua complexidade e necessidade aprofundada de análise, esse tipo de papel é mais comumente negociado por Fundos de Investimento (FIs) especializados em ativos de alto risco.
Como saber se um fundo é high yield?
Ofertas de taxas de rendimento muito acima do mercado, indicação de risco alto e histórico de volatilidade são fortes indícios de que um fundo é high yield. Na dúvida, porém, a melhor forma para saber isso é estudar a composição da carteira do FI.
Fundos high yield investem majoritariamente em títulos considerados de “baixa qualidade” ou de “grau especulativo”. Isto é, papéis avaliados com notas baixas de crédito por agências de rating, empresas independentes que avaliam a capacidade dos emissores de cumprirem com suas obrigações financeiras.
Para mensurar esta capacidade, as agências avaliam uma série de fatores importantes incluindo, mas não se limitando, a:
- Capital de giro e fluxo de caixa;
- Compliance (conformidade com as leis e regulações aplicáveis no setor em que atua);
- Grau de alavancagem;
- Histórico de inadimplência;
- Indicadores financeiros;
- Investimentos em inovação e desenvolvimento;
- Liquidez;
- Localização geográfica;
- Nível de endividamento;
- Posição da empresa em seu setor;
- Previsão de crescimento;
- Qualidade da gestão;
- Reputação no mercado;
- Situação operacional.
Normalmente, as notas de crédito vão de uma escala de “AAA” (nota mais alta) até “D” (pior nota). Dentro dessa pontuação, títulos que obtenham rating inferior a um patamar estimado pela agência de risco são então categorizados como high yield.
De acordo com a classificação da Standard & Poor’s, por exemplo, os junk bonds englobam os papéis com notas inferiores a “BBB”. Para a Moody’s, são os títulos com médias abaixo de “Baa3”.
Um ponto interessante é que o mesmo título pode apresentar notas diferentes a depender do mercado onde está sendo negociado. Pode ocorrer, por exemplo, de uma empresa brasileira considerada pouco arriscada no mercado doméstico, ser classificada como “high yield” nos Estados Unidos, já que o Brasil é uma economia emergente.
Quem emite títulos de high yield?
Tecnicamente, os títulos high yield são emitidos por empresas ou governos classificados com nota de crédito baixa por alguma agência de rating conceituada.
São, portanto, emissores que possuem maior probabilidade de se tornar inadimplentes, ou seja, que possam enfrentar dificuldades para cumprir com suas obrigações junto aos investidores. Um exemplo bastante comum são companhias de menor expressão ou startups que, apesar de pouco conhecidas, precisam arrecadar capital para expandir suas atividades.
Não obstante, os junk bonds também podem ser emitidos por empresas já consolidadas, que estejam passando por algum momento delicado, como um alto grau de endividamento. O vocabulário financeiro conta, inclusive, com um termo específico para denominar essas companhias: “fallen angels”, que são emissores que já foram bem avaliados, mas que, por algum motivo, tiveram sua nota de crédito rebaixada abaixo da “linha de corte”.
Quais são as características dos títulos e investimentos high yield?
Bastante particulares, os títulos high yield são investimentos de renda fixa que apresentam alguns atributos mais comumente relacionados a ativos de renda variável.
Para facilitar o entendimento desta categoria de título de dívida e sua identificação, vale dar uma passada por suas características mais notáveis, sejam elas positivas ou negativas. São elas:
Rentabilidade alta
Como o próprio nome indica, os títulos de “alto rendimento” (high yield) são conhecidos por oferecerem taxas de juros superiores à média.
Tecnicamente, isso significa que esses papéis apresentam um spread de crédito maior, ou seja, um prêmio adicional mais alto em relação aos Certificados de Depósito Interbancário (CDI) — taxa de referência para as operações de empréstimos entre bancos no Brasil, usada como base para diversos investimentos no Brasil.
De forma objetiva, é possível afirmar que, embora sejam investimentos de renda fixa, esses títulos podem proporcionar rentabilidades comparáveis às de ativos de renda variável, como as ações.
Risco de crédito elevado
A oferta de rentabilidade acima do mercado não é uma questão de generosidade. Longe disso. As altas taxas oferecidas pelos títulos de alto rendimento são uma forma de atrair os investidores e compensar o risco assumido por quem os adquire.
Afinal, em uma situação onde uma empresa líder em sua área de atuação e uma ainda em desenvolvimento ofereçam papéis com rentabilidade parecida, dificilmente um investidor optaria pela segunda em detrimento da primeira.
Vale lembrar que os títulos high yield são títulos com baixa qualidade de crédito. Na prática, isso quer dizer que existe uma probabilidade maior de que a empresa ou governo emissor tenha problemas para pagar os juros prometidos aos investidores, ou mesmo para devolver o dinheiro captado no mercado.
Volatilidade alta
Outra característica de renda variável compartilhada pelos títulos high yield é a alta volatilidade. Isso significa que o preço desses papeis está sujeito a maiores oscilações, sendo bastante sensível às condições do mercado e à situações relacionadas à própria emissora.
Dito de modo direto, por um motivo ou outro, pode ser que o investidor veja seus papéis desvalorizem rapidamente em poucos dias. O contrário, claro, também pode acontecer. Títulos comprados baratos podem acabar se valorizando, caso a emissora cresça e, naturalmente, aumente sua nota de crédito.
É por isso, inclusive, que algumas agências de rating classificam esses títulos como de “grau especulativo”. São, muitas vezes, tidos como uma “aposta” na variação de preço, que, se acertada, pode trazer grandes lucros.
Rating
O rating é o fator determinante para definir o que é um investimento high yield.
Afinal, high yield nada mais é do que um termo utilizado para classificar e identificar títulos de dívida com baixa qualidade de crédito. Isto é, com um baixo rating.
Em resumo, essa classificação feita por agências independentes determina qual o grau de capacidade de um emissor pagar suas obrigações. As notas vão de “AAA” (para as empresas melhor avaliadas) até “D” (para as piores). Quanto menor a avaliação, maior a chance de inadimplência.
Junk bonds são, portanto, títulos emitidos por empresas e governos que não alcançam uma nota mínima determinada pela agência de crédito. Segundo a Fitch e Standard & Poor’s (S&P), por exemplo, todo papel com rating inferior a BBB é considerado high yield.
Menor liquidez
Em decorrência do risco de crédito e da volatilidade acima da média, títulos de dívida high yield também possuem menor liquidez. Quer dizer, são mais difíceis de serem vendidos, o que pode ser um problema para investidores que, por alguma razão, queiram ou precisem reaver o dinheiro aplicado.
O motivo é fácil de imaginar: existem menos compradores interessados. Afinal, é natural que nem todo modo esteja disposto a assumir riscos tão grandes.
Tamanho da garantia
Ativos high yield costumam oferecer garantias menores ou até mesmo inexistentes. Diferentemente de alguns títulos de maior qualidade, que podem estar respaldados por ativos da empresa ou receitas específicas, esses papéis dependem unicamente da capacidade financeira do emissor para cumprir suas obrigações.
Empresas que emitem esses títulos geralmente apresentam balanços financeiros mais frágeis, historicamente voláteis ou em fase de crescimento, o que aumenta a incerteza sobre o pagamento das dívidas.
Quais são os tipos de investimentos high yield?
Os investimentos high yield são títulos de dívida pública e privada emitidos por emissores com baixa qualidade de crédito. De forma geral, esse termo pode abranger diversas classes de ativos de renda fixa disponíveis no mercado, como, por exemplo
- CDBs: Certificados de Depósito Bancário emitidos por instituições financeiras de menor porte ou criados recentemente;
- CRIs e CRAs: Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) lastreados em operações de empresas com baixa qualidade de prazo;
- Debêntures: títulos de crédito com baixa nota de rating emitidos por empresas ainda em desenvolvimento ou por companhias já consolidadas que estejam enfrentando problemas financeiros;
- Fundos High Yield: fundos de investimento especializados em títulos de dívida de alto rendimento. Além da gestão profissional, esse tipo de aplicação também oferece uma carteira diversificada de ativos high yield, o que reduz o risco destes papéis;
- Fundos Multimercados: caracterizados por investir em diferentes classes de ativos de renda fixa e variável, esses FIs também podem reservar uma parcela da carteira para títulos de crédito de maior risco;
- Fundos Imobiliários de Papel: FIIs que que investem em CRIs de risco elevado, lastreados em operações de incorporadoras ou empresas com qualidade de crédito mais baixa;
- Títulos públicos: títulos de dívida soberana emitidos por governos de países com economias menos estáveis, com histórico de inadimplência, ou que estejam passando por momentos de turbulência política e ou econômica.
Por que investir em títulos high yield?
Mesmo que muitos investidores prefiram não manter contato com essa classe de ativo, os títulos high yield representam um mercado em constante evolução. Nos Estados Unidos, onde essa classificação foi originalmente criada, por exemplo, eles representam 15% de todos os títulos de dívida em negociação.
Isso não é por acaso. Apesar dos riscos envolvidos, os títulos high yield têm atrativos que merecem atenção. Entre os mais notáveis, estão:
Taxas de juros altas
Quem olha o copo meio vazio, chama os títulos emitidos por empresas com baixa qualidade de crédito de “junk bonds”. Quem enxerga o copo meio cheio, prefere o termo “high yields”. Embora distantes semanticamente, os dois substantivos caem como uma luva para denominar esse tipo de ativo.
Apesar do alto risco de crédito, esses títulos oferecem taxas de juros significativamente mais altas do que outros tipos de renda fixa. Em resumo, eles proporcionam uma rentabilidade previsível, ao passo que podem gerar retornos semelhantes aos do mercado de ações.
Diversificação (baixa correlação)
Outra vantagem interessante é que os títulos high yield possuem baixa correlação com papéis com grau de investimento, o que contribui para uma maior diversificação em carteiras de renda fixa.
Além disso, esses títulos são menos sensíveis ao risco da taxas de juros, como as mudanças na taxa Selic, o que significa que seus rendimentos e preços não são tão impactados por alterações nas condições econômicas gerais.
Estratégias de especulação
Títulos High Yield podem ser particularmente interessantes para especuladores que adotam a estratégia de comprar papéis mais arriscados, mas com grande potencial de valorização.
A ideia, nesse caso, é identificar oportunidades de títulos subvalorizados, que ainda não estão no radar do mercado, visando obter lucro por meio do ganho de capital. Em outras palavras, a estratégia é comprar barato para vender caro.
Mas não é só frente aos ativos de renda fixa que as vantagens dos títulos de dívida de alto rendimento se destacam. É acertado dizer, por exemplo, que investimentos high yield, principalmente no longo prazo, são capazes de entregar rendimentos equiparáveis ao das ações, mas com menos volatilidade. Além disso, em caso de inadimplência da emissora, os detentores de junk bonds têm preferência de pagamento sobre os acionistas.
Em resumo, as características dos títulos high yield os tornam uma opção interessante para diversificar portfólios de investidores mais experientes e com perfil arrojado, dispostos a assumir riscos para tentar alcançar lucros substanciais. No entanto, devido ao seu grau de especulação, não é aconselhável manter uma parte significativa do patrimônio exposta a esse tipo de investimento.
Quais são os riscos dos títulos high yield?
Uma das máximas mais conhecidas do mercado financeiro afirma que quanto maior o retorno potencial de um ativo, maior o seu risco. Os títulos high yield não são exceção.
Por mais que ofereçam retornos atrativos, os riscos desse tipo de investimento podem torná-los inadequados para muitos investidores. Entre os principais riscos, destacam-se:
- Risco de crédito: o maior risco para quem investe nesses títulos é a possibilidade de não receber o retorno prometido e, em alguns casos, nem mesmo o valor investido. Não por nada, esses títulos são emitidos por empresas com baixa nota de rating;
- Alta volatilidade: o preço dos ativos high yield oscilam mais intensamente que outros ativos de renda fixa. Essa volatilidade pode gerar ansiedade e levar investidores conservadores ou iniciantes a tomar decisões impulsivas;
- Baixa liquidez: como a demanda e o volume de negociação desses ativos não é tão grande, o investidor pode enfrentar maior dificuldade em vender seus papéis, caso, por alguma eventualidade, necessite de dinheiro imediato;
- Falta de garantia: diferentemente de algumas outras classes de ativo de renda fixa, os títulos high yield não contam com proteção do Tesouro Nacional e nem do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
Com esses riscos em mente, fica mais fácil entender por que, apesar de serem títulos de renda fixa, os investimentos high yield não são recomendados para todos os perfis de investidor.
Como os títulos high yield se comportam no mercado?
Títulos high yield tendem a se mostrar bastante sensíveis ao mercado e às oscilações que envolvem a empresa emissora. Ou seja, se a companhia registrar alguma melhora significativa nos relatórios, o high yield deve subir. O contrário também é verdadeiro: uma crise generalizada no país, por exemplo, pode acabar causando um impacto bastante negativo no investimento.
Entrando em mais detalhes, vale dizer que os títulos high yield não estão tão relacionados aos demais títulos de renda fixa, o que consequentemente resulta em uma sensibilidade menor quanto à variação da taxa de juros. No entanto, como são voláteis em relação ao desempenho de seus emissores, posso até descrever o comportamento do high yield como algo mais oscilante que a renda fixa, mas não tanto quanto são os títulos de renda variável.
Na prática, fusões, aquisições, classificações de agências de rating e relatórios financeiros são alguns dos aspectos e documentos que podem, sim, fazer um título high yield apresentar um desempenho melhor ou pior.
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