Você sabia que é possível investir e ajudar o planeta ao mesmo tempo? Cada vez mais comuns, as ações e títulos de dívida ESG (Environment, Social and Governance) são papéis emitidos por empresas que se comprometem abertamente a implementar boas práticas ambientais, sociais e de governança no exercício de suas atividades.

Em consonância com uma alta demanda da população por produtos e serviços alinhados a boas práticas socioambientais, esses investimentos têm avançado a passos largos em todo o globo. Hoje, é possível dizer, que a escolha de ativos não passa mais apenas por análises fundamentalistas (lucros, receitas, dívidas, entre outros) ou técnicas (históricos de desempenho), mas também pelo desempenho da empresa em indicadores ambientais, sociais e de ética corporativa.

Quem estuda ou pretende trabalhar no mercado financeiro não pode deixar esse assunto de lado. Então, já sabe: separe uns minutos do seu dia e venha comigo saber mais sobre o que é ESG, como analisar esses fatores e de que forma essas práticas têm e podem seguir a transformar o mercado financeiro, a gestão empresarial e o mundo. 

Ao longo deste artigo, explicarei:

  • O que é ESG?
  • Quais são os 3 pilares do ESG?
  • Por que as empresas estão cada vez mais adotando práticas ESG?
  • Como saber se uma empresa é ESG?
  • Quais são as vantagens de ser ESG?
  • Quais empresas são campeãs de ESG no Brasil?
  • Como funcionam os investimentos em fundos ESG?
  • Quais são as características dos fundos ESG?
  • Qual é a importância dos investimentos ESG?
  • Qual a relação entre ESG e greenwashing?
  • Qual a diferença entre ESG e sustentabilidade?
  • Quais são as tendências para fundos ESG no Brasil e no mundo?

Vamos nessa! 

O que é ESG?

ESG é a sigla para “Environment, Social and Governance”, um conjunto de boas práticas a serem seguidas por empresas que se comprometem abertamente a respeitar o meio ambiente e a sociedade no exercício de sua atividade-fim, além de estabelecer princípios saudáveis de governança. 

O desempenho das companhias no cumprimento desses três critérios (ambiental, social e governança) é avaliado de perto por uma fatia cada vez maior de investidores engajados, preocupados em analisar as companhias para além do mero aspecto financeiro convencional. 

Termo relativamente recente, a sigla ESG foi citada pela primeira vez em 2004, em um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) chamado de “Who Cares Wins — “Ganha quem se importa”, em português. O documento foi criado após o encontro de 20 instituições financeiras — incluindo o Banco Central do Brasil (Bacen) —, de nove países, com o propósito de estabelecer diretrizes a serem observadas pelo mercado financeiro para solucionar problemas relacionados ao meio ambiente, sociedade e governança corporativa.

Apesar das empresas serem a linha de frente das práticas ESG, o relatório é mais abrangente, recomendando ações para os diferentes agentes do mercado financeiro, incluindo:

  • Analistas financeiros: são instados a incorporar os fatores ESG em suas pesquisas, prestando consideração especial aos mercados emergentes;
  • Instituições financeiras: devem se comprometer a integrar as questões ESG em seus processos de pesquisa e investimento. Introduzir metas de longo prazo de aprendizado organizacional e processos de mudança e promover treinamento para analistas;
  • Empresas: são encorajadas a implementar os princípios ESG em suas rotinas e fornecer relatórios padronizados ao mercado, onde comprovem seu desempenho em cada um dos três pilares;
  • Investidores: são incentivados solicitar pesquisas que incluam práticas ESG e dar preferência a empresas que seguem esses princípios;
  • Gestores de fundos: são recomendados a integrar pesquisas sobre essas práticas em decisões de investimento e encorajar corretores e empresas a fornecer melhores pesquisas e informações;
  • Consultores e assessores financeiros: são instados a criar uma demanda maior e contínua por pesquisas que combinem os fatores ESG e informações setoriais. Compartilhar os dados obtidos com o mercado para otimizar os relatórios sobre o tema.

O documento organizado pela ONU ainda introduz alguns problemas comuns a serem solucionados por diferentes setores da economia:

SetorProblemas a observar
Petróleo e gásDerramamento de óleo;Emissões de CO2;Impactos socioeconômicos;Relações governamentais;Distribuição de receita.
Indústria alimentíciaSegurança alimentar;Risco de marca e reputação;Regulamentação de “alimentos funcionais”;Valor nutricional, especialmente em dietas de baixa renda.
FarmacêuticaBiossegurança;Bem-estar animal;Direitos de patente;Papel nos sistemas nacionais de saúde;Efeitos ambientais de compostos.
AutomotivaRequisitos de segurança;Emissões de CO2;Mobilidade e impactos socioeconômicos;Regulamentações de baixa emissão.

Quais são os 3 pilares do ESG?

Como é possível deduzir, os três pilares principais do ESG são aqueles abrangidos pela própria sigla: 

  • Environment: meio ambiente;
  • Social: sociedade;
  • Governance: práticas de governança.

Na sequência, explico melhor cada um desses princípios e as ações comumente adotadas pelas empresas para melhorar o desempenho em cada um desses indicadores:

Meio ambiente 

O pilar ambiental do ESG mede os esforços realizados pela empresa em relação à preservação do meio ambiente. Em poucas palavras, o objetivo dessas iniciativas é reduzir o impacto causado pelo processo produtivo ao planeta.

Algumas das preocupações mais recorrentes neste tema, incluem: o efeito estufa, aquecimento global e as mudanças climáticas; poluição e descarte de resíduos; e o consumo de recursos naturais. Entre as práticas ambientais que podem ser adotadas pelas empresas para enfrentar estes e outros problemas estão:

  • Adoção da economia circular: reciclagem, reuso e adaptação de produtos visando o aumento da vida útil e redução do lixo;
  • Criação de medidas de prevenção a desastres naturais e gestão de riscos;
  • Gestão de resíduos para prevenir a poluição do solo, águas e ar;
  • Otimização dos processos produtivos com foco na redução do consumo de recursos naturais;
  • Redução da emissão de CO2;
  • Redução da emissão de poluentes e estabelecimento de metas;
  • Reflorestamento;
  • Soluções ecológicas para embalagens de produtos;
  • Uso de energias limpas e renováveis como fontes solares, eólicas e biomassa, em detrimento de combustíveis fósseis;
  • Utilização de lâmpadas de led ou sensores para reduzir o consumo de energia.

Sociedade

O pilar social do ESG avalia a forma como a empresa se relaciona com as pessoas, sejam elas colaboradores, clientes, fornecedores ou a comunidade como um todo. O foco é promover práticas que respeitem os direitos humanos, assegurem condições dignas de trabalho e contribuam para o bem-estar social.

Algumas das preocupações mais comuns nesse pilar incluem: saúde e segurança do trabalho; equidade, diversidade e inclusão; respeito aos direitos humanos; impacto nas comunidades; e desenvolvimento pessoal dos colaboradores, entre outros. 

Entre as diretrizes sociais que podem ser adotadas pelas empresas estão:

  • Ações para a melhoria da educação e da qualidade de vida dos funcionários;
  • Cumprimento dos direitos trabalhistas;
  • Dar preferência a parceiros e fornecedores que também estejam alinhados às práticas ESG;
  • Envolvimento em atividades filantrópicas e promoção de projetos direcionados ao desenvolvimento da comunidade local;
  • Implementação de políticas de respeito aos direitos humanos ao longo da cadeia produtiva, com o combate ao trabalho infantil e análogo à escravidão;
  • Investimento em saúde e segurança ocupacional, garantindo boas condições de trabalho para os funcionários;
  • Promoção do equilíbrio entre vida profissional e pessoal, por meio de práticas como horários flexíveis e benefícios sociais;
  • Proteção dos dados e segurança das informações pessoais de clientes, fornecedores e funcionários.

Governança

O último pilar das diretrizes ESG, a Governança analisa as políticas de gestão e controle adotadas pela companhia, com foco na transparência, responsabilidade e ética empresarial. A meta é garantir que as decisões sejam tomadas de forma justa, eficiente e alinhada aos interesses de todas as partes envolvidas, incluindo acionistas, colaboradores e a sociedade em geral.

Algumas das questões mais relevantes nesse pilar incluem: transparência na gestão; práticas contábeis; independência de auditores; combate à corrupção e subornos; alinhamento de interesses entre gestores e investidores. 

As práticas de governança que podem ser implementadas pelas empresas incluem:

  • Adoção de políticas de transparência em demonstrações financeiras e processos decisórios;
  • Auditorias internas e externas regulares para garantir a integridade das operações;
  • Criação de conselhos de administração independentes para assegurar a imparcialidade nas decisões;
  • Divulgação clara e acessível de informações relevantes para os stakeholders — todas as partes interessadas que podem influenciar ou ser impactadas pelas ações da empresa, incluindo acionistas, o governo, funcionários, clientes e fornecedores;
  • Estabelecimento de códigos de conduta ética para todos os níveis da empresa;
  • Implementação de práticas de compliance e políticas de combate à corrupção, lavagem de dinheiro e fraudes;
  • Implementação de sistemas de controle de riscos que assegurem a estabilidade e o crescimento sustentável da empresa;
  • Incentivo à participação dos acionistas nas assembleias e nos processos decisórios;
  • Políticas de remuneração justa e transparente para executivos, alinhadas com o desempenho da empresa.

Por que as empresas estão cada vez mais adotando práticas ESG?

Existem diversas razões pelas quais as empresas estão cada vez mais adotando práticas ESG, como o acesso a linhas especiais de crédito, a redução de custos operacionais, ou a mitigação de riscos jurídicos. No entanto, o fator mais contundente é a reputação da marca e, claro, as reações do mercado e dos próprios clientes e consumidores.

Não faz falta dizer, mas hoje, mais do que nunca, as notícias positivas e negativas de uma empresa se alastram rapidamente, chegando ao escrutínio e debate público. Nesse sentido, empresas que se destacam na gestão de questões ambientais, sociais e de governança tendem a atrair mais investidores, melhorar seu desempenho financeiro e reduzir riscos operacionais. Do mesmo modo, companhias envolvidas em escândalos de ordem ambiental, social ou de ética empresarial, tendem a afastar investidores e potenciais clientes.

Diferentes levantamentos confirmam essa percepção. Um relatório recente da plataforma de análise de dados Gitnux (em inglês), por exemplo, traz alguns dados que ajudam a ter uma ideia melhor desta realidade. 

Entre eles, vale citar:

  • 75% dos investidores consideram as características ESG ao tomar decisões de investimento;
  • 44% dos investidores dizem que sempre consideram os fatores ESG ao tomar decisões de investimento;
  • 89% dos millennials acreditam que é importante que as empresas pratiquem os princípios ESG.

Além disso, mesmo o estudo mostra que 95% das companhias do S&P 500 — indicador formado pelas 500 maiores companhias negociadas nas bolsas de valores dos Estados Unidos, e para muitos o índice mais relevante do mercado global — publicaram relatórios sobre práticas ESG em 2020, um aumento significativo em relação a 11% em anos anteriores. Um sinal bastante claro de que as maiores companhias do mundo já estão cientes da importância do ESG para seus negócios.

  No Brasil, a realidade não é diferente. Uma amostra disso está em um levantamento da agência de pesquisa norte-americana Union + Webster, por exemplo, revelou que 87% dos consumidores brasileiros preferem produtos ou serviços de empresas que  adotam práticas ESG, e 70% não se importa de pagar um pouco a mais por isso.

Se trata, em resumo, de uma questão de sobrevivência — e não no sentido mais amplo da palavra. Apesar da responsabilidade social e ambiental ter a ver com o bem do planeta e da humanidade, não é disso que estou falando: mas do impacto dessas práticas para a própria empresa em si

No cenário atual, não basta que a companhia apresente bons resultados financeiros. É igualmente importante que seja capaz de equilibrar essa performance com ações que causem um impacto positivo no mundo. Empresas que passam por cima das práticas ESG correm o risco de serem deixadas para trás ou enfrentar danos à sua reputação e operações.

Como saber se uma empresa é ESG?

Embora as práticas ESG não sejam necessariamente reconhecidas de maneira oficial por órgãos governamentais, felizmente existem diferentes formas para saber se uma empresa adota ou não estes princípios, incluindo:

  • Verificar se a empresa integra indicadores de mercado ESG (carteiras teóricas);
  • Analisar as classificações feitas por agências e organizações especializadas;
  • Considerar os selos de qualidade.

Para facilitar, abaixo explico o que são e como verificar cada uma destas fontes:

Indicadores de mercado ESG

Os indicadores de mercado, para quem não conhece, funcionam como carteiras teóricas de investimento utilizadas para medir o desempenho de um grupo de ativos ou setores específicos dentro de uma economia. Um indicador de mercado ESG segue a mesma lógica: são portfólios constituídos essencialmente por empresas que adotam práticas sustentáveis, sociais e de governança. Por aqui, os principais índices de mercado ESG são:

Rankings ESG

Os rankings ESG avaliam empresas com base em suas práticas ambientais, sociais e de governança. Essas classificações são realizadas por agências e organizações especializadas, conhecidas do mercado. Alguns exemplos são:

  • Bloomberg ESG Data: plataforma que fornece informações e análises sobre desempenho ambiental, social e de governança (ESG) de empresas ao redor do mundo;
  • CDP (Carbon Disclosure Project): organização global sem fins lucrativos, a CDP apresenta relatórios com foco em aspectos ambientais, como mudança climática, segurança hídrica e desmatamento;
  • FTSE Russell: responsável pelo FTSE4Good Index Series, avalia empresas com boas práticas de ESG e fornece índices de referência para investidores com foco na sustentabilidade;
  • MSCI ESG Research: uma das agências globais mais influentes, oferece avaliações de ESG para uma ampla gama de empresas globais, utilizando uma metodologia que cobre diversos setores e temas, normalmente usando notas que vão de 1 a 100;
  • S&P Global ESG Scores: desenvolvida pela S&P Global — uma das mais conhecidas empresas de análise financeira e rating do mundo —, essa classificação avalia o desempenho de empresas com base em suas práticas ESG;
  • Sustainalytics: agência global especializada em análise e classificação de risco ESG, fornece diferentes ratings que podem auxiliar investidores a entender o impacto dessas práticas no mercado;
  • Vigeo Eiris (agora parte da Moody’s): essa agência se concentra na análise de práticas de responsabilidade corporativa, classificando empresas em questões ambientais, sociais e de governança.

Selos de qualidade

Os selos de qualidade são reconhecimentos concedidos a empresas que atendem a certos padrões ou critérios em áreas específicas, como qualidade de produtos, serviços ou práticas de sustentabilidade. No contexto ESG, esses selos atestam que uma companhia demonstra compromisso com práticas ambientais, sociais e de governança.

No Brasil, alguns dos principais selos de qualidade relacionados a ESG incluem:

  • Selo Verde: concedido por diversas instituições e órgãos ambientais a empresas que adotam práticas para reduzir o impacto social;
  • B Corp: criado pela organização sem fins lucrativos B Lab, essa certificação reconhece empresas que contibuem a consolidação de um sistema econômico mais inclusivo, equitativo e regenativo;
  • ISO 14001: emitido pela International Organization for Standardization (ISO), esse selo internacional certifica que uma empresa possui um sistema de gestão ambiental eficaz;
  • Selo neutro de carbono/ carbon free: vários programas concedem essa certificação a empresas que atuam para compensar suas emissões de carbono;
  • Selo Procel: selo dado a produtos que demonstram eficiência energética, contribuindo para a sustentabilidade.

Além das formas citadas acima, quem quer comprovar se uma empresa atende os princípios ESG tem a liberdade de revisar os relatórios de sustentabilidade emitidos pela companhia. Para garantir, vale ainda pesquisar notícias para verificar se a marca em questão está envolvida em alguma polêmica de ordem ambiental, social ou de gestão.

Quais são as vantagens de ser ESG?

Não é só o planeta e a sociedade que saem ganhando quando as empresas seguem as diretrizes ESG. O exercício dessas políticas também traz benefícios para as próprias companhias, como fidelização de clientes, redução de custos, melhoria da reputação, acesso a linhas especiais de crédito e maior interesse dos investidores. 

Fidelização de clientes

Diferentes pesquisas têm demonstrado que os clientes estão cada vez mais engajados e interessados nos princípios das empresas por trás dos produtos e bens que consomem. Esses estudos sugerem que boa parte da população prefere dar preferência a empresas que tenham compromisso ambiental, social e possuam ética nos negócios.

Com o imediatismo das redes sociais, polêmicas envolvendo empresas em qualquer uma dessas áreas se espalham rapidamente, causando danos significativos às marcas.

Redução de custos

Por mais que inicialmente a empresa possa ter que despender algum capital para se enquadrar nas diretrizes ESG, no longo prazo, a adoção deste tipo de política acaba resultando em resultando na redução dos custos operacionais. Alguns exemplos claros disso são a adoção de fontes de energia renovável e a introdução dos processos de economia circular. 

Além disso, ao estar alinhado com as práticas ESG, a companhia também reduz os riscos — e custos — de se envolver em processos jurídicos, fraudes ou polêmicas.

Melhoria da reputação

Essa é fácil: empresas que demonstram consciência ambiental, social e boas práticas de gestão são vistas com melhores olhos por clientes, investidores, fornecedores e mesmo pelos próprios funcionários.

Seguindo o mesmo raciocínio, companhias que não estejam alinhadas a esses princípios podem acabar ficando pelo caminho. No pior dos casos, acabam ofuscadas por concorrentes mais engajadas. No pior cenário, em caso de ter seu nome envolvido em alguma polêmica, o dano para a marca pode ser irremediável. 

Linhas especiais de crédito

Seja para iniciar suas atividades ou para expandi-las, é bastante comum que as empresas tenham que recorrer a empréstimos. Nesse sentido, companhias de ESG podem contar com uma vantagem muito importante: o acesso a linhas especiais de crédito oferecidas por bancos e instituições financeiras que valorizam o compromisso sustentável

Essas linhas possuem condições vantajosas, como taxas de juros reduzidas, prazos maiores e incentivos para financiamento de projetos verdes ou sociais.

Confira algumas das principais concessoras dessas linhas de crédito:

  1. BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social): dispõe de linhas de crédito voltadas para sustentabilidade, como o BNDES Finem para projetos que promovam a eficiência energética, energia renovável e gestão de resíduos;
  2. Bancos privados: instituições como Itaú, Bradesco e Santander oferecem linhas de crédito sustentáveis, focadas em projetos que promovam a preservação ambiental e práticas de governança responsável;
  3. Fundos verdes: existem também fundos de investimento direcionados para projetos ESG, como o Fundo Clima do BNDES, criado para financiar projetos voltados à mitigação e adaptação às mudanças climáticas no Brasil.

Maior segurança para investidores

Algumas pesquisas, por exemplo, sugerem que empresas ESG tendem a apresentar melhores resultados no longo prazo, além de menor volatilidade — principalmente em momentos de crise generalizada. 

Essas companhias também são frequentemente vistas como mais transparentes, com um foco claro em metas de longo prazo, o que ajuda a reduzir riscos financeiros e operacionais.

Quais empresas são campeãs de ESG no Brasil?

Essa é uma pergunta complicada de responder, já que a resposta não é atemporal e depende da fonte utilizada. Como existe um grande número de levantamentos e classificações feitas por diferentes organizações e agências especializadas — cada qual com seus critérios específicos —, a melhor maneira para descobrir quais são as campeãs de ESG no Brasil seria espelhando essas informações para observar os nomes que mais se repetem nessas publicações.

A título de ilustração, seguem os resultados de algumas classificações mais recentes:

Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3)

Primeiro indicador de ESG da América Latina, o ISE B3 pode ser considerado, de certo modo, um ranking de empresas sustentáveis. De acordo com o peso na composição dessa carteira teórica, entre maio e agosto de 2024, as 5 principais companhias seriam:

  • Lojas Renner;
  • Vivo;
  • Tim;
  • Engie; 
  • Copel.

Ranking Merco de Responsabilidade ESG 2023

Em sua 10ª edição no Brasil, o Ranking de Responsabilidade ESG 2023 da Merco, empresa espanhola de monitoramento corporativo, tem por objetivo elencar as 100 melhores empresas em um cenário geral de responsabilidade ESG no país

A metodologia é baseada em entrevistas com membros de alta direção de empresas e, posteriormente, especialistas em responsabilidade social corporativa, analistas financeiros, ONGs, sindicatos, associações de consumidores, jornalistas, representantes do governo, entre outros. 

Nessa ranking, as 5 melhores companhias são as seguintes:

  • Natura;
  • Grupo Boticário;
  • Hospital Sírio-Libanês;
  • Magazine Luiza;
  • Itaú.

Anuário Integridade ESG 2024 

Criado pela Insight Comunicação, o Anuário Integridade ESG utiliza big data para identificar, coletar e mensurar menções à temática ESG em toda a internet (incluindo sites, portais de notícias, páginas especializadas e redes sociais), para constituir o ranking das 100 companhias de destaque ESG. 

Na edição deste ano, o anuário traz uma lista geral e 3 temáticas: uma para cada pilar do ESG.

Ranking geralPilar ambientalPilar socialPilar de governaça
Banco do BrasilSuzanoBanco do BrasilPetrobras
PetrobrasAmbevPetrobrasBanco do Brasil
AmbevNaturaCaixaBradesco
SuzanoBanco do BrasilAmbevAmbev
CaixaCaixaEletrobrasGerdau

Como funcionam os investimentos em fundos ESG?

De forma didática, é possível dizer que os Fundos de Investimento (FIs) ESG, também chamados popularmente como “fundos verdes”, funcionam como uma espécie de carteira compartilhada composta por títulos emitidos por empresas ambientalmente e socialmente responsáveis

Ao adquirir cotas de um Fundo ESG, o investidor está somando recursos a uma montante maior, formado por aplicações de diferentes investidores — pessoas físicas e jurídicas. Esse patrimônio conjunto é administrado por um profissional do mercado financeiro, o gestor do fundo, quem analisa e escolhe os ativos que irão compor o portfólio, sempre obedecendo as políticas internas originalmente definidas.

Ao fim de cada mês, os retornos obtidos com a carteira são distribuídos proporcionalmente entre todos investidores. Ou seja, de acordo com o número de cotas que cada um possui. 

Entre as vantagens dos fundos de investimento estão a diversificação natural da carteira, permitindo que o investidor tenha acesso a um cesto de ativos com uma única aplicação. Além disso, esses fundos se caracterizam pela praticidade, já que o cotista não precisa se preocupar em estudar e selecionar cada ativo por conta própria. Não é necessário, por exemplo, comparar o desempenho ESG de diferentes empresas ou acompanhar individualmente as movimentações desses títulos; tudo isso cabe ao gestor.

Na prática, o funcionamento de um fundo verde é igual ao de qualquer outro FI. A diferença está justamente no critério de escolha das empresas que compõem suas carteiras, as quais devem cumprir os pilares ESG.

Quais são as características dos fundos ESG?

Os fundos ESG oferecem uma maneira prática para o investidor interessado em diversificar a carteira com investimentos em empresas ecologicamente corretas e engajadas com o bem-estar social. 

Cada vez mais conhecidos, esses fundos contam com algumas particularidades que os diferenciam de FIs mais convencionais. Entre elas, vale destacar:

Negócios sustentáveis

A principal característica dos fundos ESG está na seletividade das empresas. Esses fundos só investem em companhias sustentáveis, que empregam políticas para diminuir o impacto ambiental causado por seu processo produtivo.

São empresas que priorizam, por exemplo, a redução de emissões de carbono, o uso eficiente de recursos naturais, o uso de energias renováveis, entre outros.

Menor volatilidade

Empresas ESG correm menos riscos regulatórios, jurídicos e reputacionais. Além disso, possuem acesso a linhas especiais de crédito e tendem a ter processos produtivos otimizados. A soma de todos esses fatores faz com que essas companhias e os fundos que investem nelas apresentem volatilidade naturalmente menor que a de outros investimentos semelhantes.

Rentabilidade com bom desempenho

O retorno dos Fundos ESG não são apenas no contexto ambiental ou social, mas também se traduzem em lucro para os investidores.

Por mais que seja um mercado relativamente recente, estudos têm demonstrado o potencial desses fundos de entregarem desempenhos acima do mercado. Segundo levantamento da Morningstar, no período de 10 anos até 2019, mais de 58,8% dos fundos sustentáveis obtiveram lucros superiores em comparação com a média de seus pares tradicionais. 

Qual é a importância dos investimentos ESG?

Aproximando o mercado financeiro de boas práticas sociais e ambientais, os investimentos ESG são de grande importância tanto para a economia quanto para o planeta. Além de retorno financeiro, quem investe em empresas ESG também colabora para um mundo melhor

Abaixo explico melhor como isso acontece:

Importância para o planeta

Investir em empresas ESG é uma forma de o investidor validar os esforços da companhia ao adotar políticas de responsabilidade social e ambiental em seus processos diários. Esse movimento também pressiona outras empresas a aderirem a essas práticas, sob o risco de perderem espaço no mercado.

Quanto maior o número de empresas comprometidas com os princípios ESG, melhor para o planeta. Investimentos ESG incentivam práticas sustentáveis, como a redução das emissões de carbono, o uso responsável dos recursos naturais e a proteção da biodiversidade.

Importância para a economia

No contexto econômico, os investimentos ESG têm o potencial de promover um crescimento mais estável e de longo prazo. Companhias que adotam critérios ESG tendem a ser mais resilientes a riscos regulatórios, sociais e ambientais. Consequentemente, também correm menos risco de perder valor de marca, evitando a associação com polêmicas e escândalos.

De uma perspectiva mais ampla, o investimento em ESG pode ainda estimular inovações, impulsionar setores emergentes e criar novos mercados, como os setores de energia renovável e veículos elétricos, que vêm ganhando destaque recentemente.

Qual a relação entre ESG e greenwashing?

Greenwashing é o termo que designa a atitude anti-ética de empresas que alegam publicamente fazer mais pelo meio ambiente do que realmente fazem. O velho “faça o que digo, não o que faço”.

De olho na demanda cada vez maior por produtos e serviços ecologicamente corretos, essas companhias buscam lucrar com o “marketing verde”. Se empenham em criar a identidade de uma marca consciente e preocupada com a causa ambiental, enquanto, na prática, não adotam os princípios ESG, ou mascaram seus relatórios para apresentar um bom desempenho nesses quesitos.

Essa, infelizmente, não é a única prática utilizada por empresas para enganar consumidores e investidores e lucrar com ESG. Na mesma linha, existe ainda o chamado “socialwashing”, que é o ato de falsificar ideias de responsabilidade social para vender mais.

Qual a diferença entre ESG e sustentabilidade?

Embora exista uma relação clara entre ESG e sustentabilidade, existe uma diferença de enfoque entre os dois termos. A sustentabilidade é um dos três pilares das diretrizes ESG, junto à responsabilidade social e às boas práticas de gestão. Se trata de um termo mais amplo, que abrange a capacidade de toda a sociedade ou sistema de adotar ações que conservem o meio ambiente.

Por sua vez, ESG refere-se a um conjunto global de boas práticas adotadas por empresas, amplamente utilizadas por investidores como fator de decisão. 

Ou seja, o ESG compreende a adoção de práticas sustentáveis por companhias. A concepção de sustentabilidade, no entanto, vai muito além do mercado financeiro ou do contexto empresarial.

Quais são as tendências para fundos ESG no Brasil e no mundo?

De modo objetivo, as tendências para fundos ESG no Brasil e no mundo apontam para um crescimento cada vez maior desse mercado, impulsionado por uma demanda e pressão de investidores e consumidores por práticas mais éticas e sustentáveis. 

Existe também um forte movimento regulatório, com a criação de legislações mais rígidas no que tange à relação do mercado financeiro e as causas socioambientais. Assim como o crescimento de investimentos em ESG, essa tendência já apresenta indícios claros, à medida que as primeiras regulações e normas já começaram a ser implantadas.

Na Europa, a UE implementou a Taxonomia Europeia, um sistema claro e padronizado para classificar o que pode ser considerado um investimento sustentável, influenciando assim a forma como os fundos ESG são estruturados e comercializados. No Brasil, desde 2022, as instituições financeiras são obrigadas a identificar fundos que investem 100% em títulos sustentáveis com o sufixo IS (Investimento Sustentável).

Por fim, com o aumento da demanda e da regulação, também é esperado uma integração cada vez maior de métricas ESG, por meio de tecnologias que facilitem a coleta e análise de dados, facilitando aos analistas, gestores e investidores a tarefa de avaliar o desempenho das companhias nesses quesitos.

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Independentemente da sua especialidade no mercado de investimentos, compreender temas como as ações ESG é fundamental para a sua atuação profissional. Considerando um presente e um futuro no qual consumidores, empresários e investidores estão cada vez mais atentos às questões sociais, ambientais e de governança, não dá pra deixar de lado a importância dessas métricas no setor financeiro.

E mais: essa não é a única temática que precisa ser parte da sua rotina de estudos. Não sabe por onde começar? Então, se inscreva agora no canal da TopInvest no YouTube. Por lá, temos aulas gratuitas todas as semanas, com vídeos didáticos e descomplicados para você se tornar um profissional fora da curva.

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