O que é a regra de Taylor?

A regra de Taylor é um dos princípios de política macroeconômica mais conhecidos e difundidos no campo das ciências econômicas. Objetivamente, trata-se de uma fórmula utilizada para ajustar a taxa básica de juros a curto prazo e controlar a inflação, tendo por base a conjuntura econômica de um país. 

Um dos principais fundamentos deixados pelo chamado “Novo Consenso Macroeconômico” (NCM) — teoria desenvolvida ao longo das décadas de 1980 e 1990, que enfatizava o papel da política monetária na estabilização econômica, com o objetivo principal de administrar a inflação —, a regra de Taylor foi introduzida em uma tese acadêmica de 1993, pelo economista norte-americano e professor da Universidade de Stanford, John Taylor.

Neste ensaio, o professor Taylor definiu o valor para a taxa de juros de curto prazo buscada pelo Federal Open Marker Comittee (FOMC) — autarquia do Banco Central dos Estados Unidos, responsável por formular a política monetária do país —, com base na inflação e nos hiatos de produção e desemprego.

Embora a regra de Taylor tenha sido desenvolvida pensando na realidade econômica dos EUA, desde sua criação, ela tem sido amplamente adaptada e utilizada como guia ou base por diferentes Bancos Centrais para tomadas de decisões de política monetária. Esse é um dos cálculos aplicados pelo Banco Central do Brasil para a definição da Selic, a taxa básica de juros brasileira.

Como a regra de Taylor funciona?

Usada para definir a taxa de juros básica de um país, o funcionamento da regra de Taylor parte da relação entre as seguintes variáveis:

  • Desvio de inflação atual (ou esperada): discrepância entre a inflação atual e a meta de inflação estabelecida pelo governo ou autoridade monetária, no caso do Brasil, pelo Conselho Monetário Nacional (CMN);
  • Hiato do produto: diferença entre a produção efetiva de um país e seu máximo potencial produtivo;
  • Estimativa da taxa de juros real de equilíbrio: taxa de juros que equilibra a oferta e a demanda, levando em conta a taxa de inflação esperada.

Esses elementos são dispostos da seguinte forma na fórmula elaborada por John Taylor:

i = e + t + 0,5 (t-t’) + 0,5 (y-y’)

Onde:

  • i = taxa de juros nominal de curto prazo (taxa básica de juros);
  • e = estimativa da taxa de juros real de equilíbrio;
  • t = taxa de inflação atual;
  • t’ = meta de inflação;
  • y = PIB atual;
  • y’ = PIB potencial.

O valor de 0,5 é adicionado ao cálculo como coeficiente de sensibilidade às variações da inflação e do PIB, segundo estimativas empíricas observadas por Taylor ao analisar as taxas de juros praticadas pelo FED.

Quais são as aplicações da regra de Taylor?

A regra de Taylor é utilizada por Bancos Centrais e governos de diferentes países como base para o estabelecimento de políticas monetárias. Sua principal aplicação está no estabelecimento da taxa de juros básica, com o objetivo de controlar a inflação e estabilizar a economia.

A relação entre a taxa de juros e a inflação proposta por essa fórmula há 30 anos, ainda é um determinante em voga na atualidade. Resumidamente, a regra de Taylor sugere que, em períodos de alta inflação, as autoridades monetárias devem aumentar a taxa de juros de curto prazo acima da inflação.

A ideia é que ao elevar a taxa de juros, como em um efeito dominó, o crédito fica mais caro, o consumo é freado, e os preços tendem a cair acompanhando a demanda.

Funcionando como uma espécie de contrapeso ou ponto de equilíbrio, a taxa básica de juros também pode ser aplicada em sentido oposto. Isto é, em momento de desaceleração econômica, esse valor pode ser diminuído como uma estratégia para incentivar o consumo e aquecer a economia.

Como funciona a prática de política monetária segundo a regra de Taylor?

A regra de Taylor é utilizada como guia para a definição de políticas monetárias pelos Bancos Centrais em países que adotam o regime de metas da inflação.

Na prática, essa fórmula ajuda a definir o valor para a taxa básica de juros, de modo a manter a inflação dentro do teto estipulado pelas autoridades monetárias e promover o crescimento econômico sustentável.

De acordo com a regra de Taylor, para alcançar esse objetivo, o Banco Central precisa aumentar a taxa de juros de curto prazo quando:

  • A inflação atual está acima do teto inflacionário definido pela autoridade monetária;
  • A produção supera a taxa potencial.

Além disso, a taxa de juros deve ser reduzida sempre que:

  • A inflação estiver abaixo do teto mínimo estimado;
  • O hiato econômico for muito elevado.

Para movimentar a taxa de juros de curto prazo, o Banco Central, por meio da mesa de mercado aberto, realiza compras ou vendas de títulos públicos, dependendo do objetivo que pretende alcançar: as compras diminuem os juros e expandem a base monetária; as vendas, por sua vez, elevam os juros e diminuem o dinheiro em circulação.

As decisões de política monetária que envolvem o controle dos juros são tomadas com base no cenário macroeconômico, pelo Comitê de Política Monetária. No Brasil, esse papel é cumprido pelo COPOM, órgão colegiado do Bacen.

Quais cuidados devem ser tomados com a regra de Taylor?

Por mais que seja um dos princípios macroeconômicos mais importantes das últimas décadas, a regra de Taylor está longe de ser uma unanimidade. Se por um lado, foi popularizada por fornecer uma equação objetiva e prática para a determinação da taxa de juros de curto prazo, por outro, também é alvo de críticas por suas limitações.

Entre os principais pontos fracos debatidos acerca dessa fórmula na formulação de políticas monetárias, é possível citar:

Simplificação de variáveis

  A fórmula parte do cruzamento de apenas duas variáveis — as metas de inflação e o PIB potencial —, o que é visto, por muitos, como uma simplificação muito grande dos fatores econômicos que podem afetar a política econômica. Ignora, por exemplo, as taxas de câmbio, situação econômica global e desenvolvimento de diferentes mercados financeiros.

Dependência histórica

Esse cálculo toma por base a inflação passada para determinar a taxa de juros apropriada para a atualidade. Como as condições econômicas e o comportamento de consumo e produção são mutáveis, basear-se em dados históricos pode nem sempre ser o indicado. 

É por isso que muitos estudiosos defendem seu uso parcial, em conjunto, com outras fórmulas e teses. Algumas versões modificadas da regra, inclusive, consideram também expectativas de inflação futura, além do histórico inflacionário.

Falta de flexibilidade

A regra de Taylor é baseada em uma fórmula rígida que não considera eventualidades econômicas e pode sugerir movimentações de taxas de juros muito bruscas. 

A política monetária muitas vezes requer uma abordagem adaptativa e flexível para lidar com choques e mudanças nas condições econômicas

Quebras na safra agrícola, por exemplo, podem elevar a inflação para além da meta e reduzir o PIB potencial. Em um cenário como esse, o ideal é administrar a taxa de juros gradualmente.

Desconsideração de políticas fiscais e regulamentações financeiras

A fórmula proposta por Taylor não engloba efeitos da política fiscal que podem ir de encontro com as políticas monetárias, como mudanças nos impostos ou no teto de gastos do governo. Ignora ainda o impacto das regulações financeiras na economia. Regulações mais rígidas sobre instituições financeiras podem, por exemplo, limitar a disponibilidade de crédito, impactando a eficiência das medidas monetárias.

É importante lembrar que a regra de Taylor foi originalmente criada com base na experiência das políticas monetárias adotadas pelo FED, nos Estados Unidos, e pode não se adequar perfeitamente a outros países ou contextos econômicos. 

Ainda, vale o reforço de que esse princípio é resumido em uma fórmula matemática. Isso significa que só considera variáveis econômicas observadas e quantitativas. Muitas vezes, contudo, as decisões dos Bancos Centrais vão além de fatores passíveis de serem contabilizados. Um exemplo disso é a expectativa dos diferentes agentes econômicos quanto aos rumos da economia.

Por fim, as taxas de juros não são os únicos instrumentos políticos possíveis de serem utilizados para alcançar a estabilidade de preços e a estabilidade econômica. Até porque a sobrecarga de processos de ajustes na taxa básica acarretaria custos elevados.